“Aquele que é escravo de suas paixões e instintos, nega de fato a sua liberdade. Não é livre nem de fato, nem de direito. Submetendo-se ao domínio da natureza inferior, abdica a sua realeza e a sua filiação divina”. (Júlio Schwantes).
SANSÃO, O FORTE-FRACO
Sansão tinha tudo para começar e terminar bem a sua história, mas não foi assim. A história de Sansão deve levar o crente a refletir sobre como está agindo e reagindo em sua luta contra a concupiscência da carne.
À semelhança de Sansão, toda pessoa tem áreas vulneráveis ao pecado. Por isso, o autocontrole é uma virtude que não pode faltar no caráter do cristão. Sansão não levou isso a sério.
Nenhum outro homem na Bíblia se compara a Sansão quando se trata de força física extraordinária.
Debaixo da unção divina, ele realizou sete impressionantes proezas:
- Estrangulou um leão sem usar nenhum tipo de arma (Jz 14.6)
- Massacrou trinta homens em Asquelão (Jz 14.19)
- Com trezentas raposas, ele queimou os campos dos filisteus (Jz 15.4)
- Pela segunda vez, massacrou os filisteus (Jz 15.8)
- Com uma queixada de jumento, ele feriu mil homens (Jz 15.15)
- Removeu os portões de Gaza (Jz 16.3)
- Derrubou o templo de Dagon (Jz 16.23-31)
Apesar dessas proezas, Sansão foi derrotado pelos inimigos e reduzido a escravo nas mãos dos filisteus, tudo porque não foi capaz de conquistar a si mesmo.
O fracasso de Sansão nos ensina que “uma fraqueza que o homem não domina, logo será a causa da sua própria destruição”.
DEIXOU-SE GUIAR PELO CORAÇÃO
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O profeta Jeremias disse que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas” (Jr 17.9ª).
Quem não tem domínio próprio sobre os desejos do seu coração, certamente tomará caminhos errados, e os resultados serão desastrosos.
Foi o que aconteceu com Sansão. Ele deixou-se levar pelos impulsos do seu coração, não usando a sua inteligência para fazer ponderações.
Apaixonou-se por mulheres filistéias, não atentando para a orientação e para o bom-senso dos seus pais e, muito menos, pedindo orientação do Espírito Santo.
O jovem Sansão foi seduzido, enganado, subjugado, humilhado, derrotado, até que se arrependeu e Deus teve misericórdia dele (Jz 16.28-30).
“O que confia no seu próprio coração é insensato, mas o que anda sabiamente escapará”(Pv 28.26).
- Aqueles que não se sujeitam á disciplina própria serão disciplinados pelas circunstâncias da vida.
- Pessoas que são escravas de suas paixões correm o risco de morrerem como escravas.
- Cada pessoa lavra os termos da sua própria sentença. O destino do homem é o resultado das escolhas que ele faz.
- Quem brinca de se deixar amarrar, um dia poderá ficar amarrado para sempre.
Todo cristão precisa saber que o domínio próprio é uma conquista diária, em que as pequenas vitórias de hoje preparam as grandes vitórias de amanhã. (1 Co 9.24-27).
O apóstolo Paulo coloca o domínio próprio como uma das virtudes do fruto do Espírito que precisa ser desenvolvida no crente (Gl 5.22).
O autocontrole é o desafio de cada dia. Não importa o nível de maturidade do cristão, esta é uma batalha que vai durar até o dia do arrebatamento da igreja ou da partida de cada um para estar com o Senhor. Esta é a luta da qual a Bíblia fala (Gl 5.17).
Um dos homens que desenvolveu esta qualidade em seu caráter foi o apóstolo Paulo. Ciente de que o autocontrole seria o segredo da sua vitória sobre a sua natureza, preferiu esmurrar o seu corpo reduzindo-o á escravidão para que, pregando aos outros, não viesse a ser desqualificado (1 Co 9.27).
Se Sansão tivesse feito o mesmo, sua história teria outro final.
PORQUE SANSÃO NÃO CONQUISTOU A SI MESMO?
Observe que Sansão dominou seus muitos inimigos, mas não foi capaz de dominar a si mesmo, e esta foi a causa da sua derrota.
Consideremos quatro razões que comprovam que sansão foi displicente e indisciplinado:
- Excesso de confiança (Jz 16.20).
Quando as pessoas confiam demasiadamente em si, acabam se autodestruindo.
O conselho das Escrituras é: “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento” (Pv 3.5).
- Não levou a sério seu ponto fraco.
Toda pessoa deve saber qual é o seu ponto fraco, o que a leva a vigiar e proteger as áreas vulneráveis de sua vida, sabendo que não pode descuidar das inclinações de sua alma. Jesus deixou um alerta sobre isso (Mt 26.41).
- Brincou de se arriscar (Jz 16.1-20).
Quem brinca de se arriscar, acabará nas mãos do inimigo, porque o diabo não brinca de ser diabo, muito pelo contrário (1 Pe 5.8). O cristão deve viver cautelosamente em todo tempo, conforme o apóstolo Paulo escreveu (Ef 6.18).
- Nunca quis aprender com os seus próprios erros.
John Maxwell diz que, para aprender com os próprios erros é necessário:
1 – Ser grande o bastante para admitir os erros
Quando há dificuldade em se admitir os erros, deixa-se de ser benção para as pessoas, tornando-se um grande problema. Só os verdadeiramente grandes são capazes de reconhecer os seus erros.
2 – Esperto o suficiente para se beneficiar deles.
Os erros de uma pessoa podem ajudá-la a mudar a maneira de fazer as coisas, de se comportar diante de certas situações, e da forma como ela reage aos estímulos.
O domínio próprio não está relacionado apenas ao instinto sexual, mas também a muitas outras coisas, ou melhor, a todas as áreas da vida do cristão.
- O domínio do apetite
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O apóstolo Paulo fala do assunto em Gálatas 5.22.
Glutonaria – Dentro do nosso contexto, nos dias atuais, aqueles que perdem o controle e comem exageradamente estão praticando as obras da carne.
Não seria exagero afirmar que, na maioria das vezes, a obesidade é um problema espiritual. Quando uma pessoa come além do necessário, está praticando a glutonaria e destruindo o templo do Espírito Santo, que é o seu corpo (1 Co 6.19).
- O domínio do temperamento
“Melhor é o longânimo do que o herói de guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade” (Pv 16.32).
Quando não há controle do temperamento, a pessoa se torna anti-social, com dificuldade de se relacionar, e isso compromete todas as outras áreas da sua vida.
Quando uma pessoa se converte a Cristo, o seu caráter passa por uma transformação, porém, o temperamento não.
O temperamento será controlado pelo Senhor, à medida que o Espírito Santo desenvolver na pessoa o caráter de Cristo.
Isso tem a ver com o que Jesus disse no Sermão da Montanha: “Bem aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra” (Mt 5.5).
- O domínio da língua
“Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo” (Tg 3.2).
A língua pode ser um instrumento gerador de vida, como também de morte (Pv 18.21). Não é por acaso que a Bíblia compara a língua a uma “navalha afiada” (Sl 52.2) e “flecha mortífera” (Jr 9.8).
Infelizmente, a causa dos maiores problemas na igreja é o uso indisciplinado da língua. Nada é mais prejudicial ao Corpo de Cristo do que pessoas que não tem controle no uso da língua.
- Domínio nas finanças
O domínio do impulso de gastar (2 Rs 4.1-7).
Um dos segredos dos bons administradores é o “autocontrole”. A falta de domínio próprio na administração do dinheiro leva a pessoa a ser um consumidor compulsivo.
Há pessoas que são inteligentes em muitas áreas, porém não são boas administradoras.
Todo bom administrador tem visão, sabe planejar, é determinado, generoso e tem autodisciplina.
A pessoa que tem autocontrole dos seus impulsos costuma ser criteriosa quando sai ás compras, porque sabe dar valor ao dinheiro que foi ganho com muito esforço.
DESENVOLVENDO E EXERCITANDO O AUTOCONTROLE
Como as demais virtudes, o autocontrole precisa ser desenvolvido e exercitado por todo cristão. Ele não surge automaticamente na vida das pessoas. É uma busca diária que exige esforço e muita atenção.
Jesus deu um alerta aos discípulos quando os encontrou dormindo em vez de encontrá-los orando (Mt 26.41).
Se a carne é fraca, como alguém poderá, então, desenvolver tal virtude em seu caráter para vencer as tendências destrutivas da carne?
- Através da dependência da graça de Deus
Nenhum cristão conseguirá segurar seus instintos, temperamentos e desejos por muito tempo, sem contar com a graça do Senhor Jesus.
Aquele que salva e torna o homem participante da Sua natureza pode auxiliar no desenvolvimento do autocontrole através do Espírito Santo.
Lembre-se de que o recurso máximo resulta da transformação da disposição interior. (2Tm 2.1; 2 Co 12.9).
- Através da vida disciplinada
O cristão, qual atleta, deve ter uma vida disciplinada (2Tm 2.5). Isso tem a ver com meditação, oração, estudo da Palavra, momentos de solicitude com Deus, a prática do serviço cristão, a confissão e o culto.
A pessoa disciplinada nas pequenas coisas tende a ser disciplinada nas grandes coisas também, enquanto os que são indisciplinados num aspecto da vida o são em muitos outros. A disciplina é o preço para se ter uma vida de excelência.
John Maxwell disse: “Quem não aceita a dor da disciplina hoje, amanhã irá chorar com a dor do arrependimento”.
É sempre mais fácil vencer a tentação quando se decide agir antes de ela surgir. Daniel e seus companheiros de oração, Mizael, Ananias e Azarias decidiram antes como iriam agir quando fossem tentados na Babilônia (Dn 1.8).
Quando se decide não mentir diante de uma possível situação, fica mais fácil trabalhar só com a verdade.
- Controlando os pensamentos
As ações são o resultado daquilo que se pensa. De certa forma, a pessoa é fruto de seus pensamentos. Se os pensamentos forem controlados, a pessoa, conseqüentemente, não agirá com base no que está sentindo, mas sim, em princípios.
Pode se escolher os pensamentos que devem dominar a mente. O apóstolo Paulo, escrevendo para a igreja de Filípos, disse:
“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” (Fp 4.8 ).
- Conclusão
Se pudéssemos perguntar ao apóstolo Paulo: “O que é necessário para começar e terminar bem na carreira cristã?"
É bem provável que ele respondesse:
“ Dentre as muitas virtudes do caráter, não pode faltar no cristão o domínio próprio”.
Em suas epístolas, fica claro que aqueles que conquistam a si mesmos, subjugaram antes as tendências pecaminosas da velha natureza, submetendo-as ao controle do Espírito Santo. Foi esta a orientação que o apóstolo enviou aos gálatas (Gl 5.16).
Concluímos com as palavras de uma escritora conhecida que sintetiza tudo o que estudamos sobre domínio próprio:
“ Fisicamente falando, Sansão foi o homem mais forte da terra; mas, no domínio de si mesmo, na integridade e firmeza, foi um dos mais fracos. Muitos tomam erradamente as paixões fortes como caráter forte; mas a verdade é aquele que é dominado por sua paixão é homem fraco. A verdadeira grandeza do homem é medida pela força dos sentimentos que ele domina, e não pelos sentimentos que dominam”.
Colunas do Caráter Cristão/Central Gospel - Rev.14 - Ano 3
Comentarista: Pr. Josué Gonçalves.
Pr. Valmir Costa
IBMEM – 19/05/2011.